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domingo, 11 de abril de 2010

DAGDA, O DEUS DO CALDEIRÃO

Assim, seria Sucellos o grande deus? Sim e não, pois os traços principais de Sucellos estão presentes num outro deus, Taranis ( o Trovão), que os romanos assimilaram a seu Júpiter, mas que era a primeira pessoa da TrindadeTaranis-Teutates-Esus, na qual Teutates apresentava o protetor da teura (a tribo, o povo) e Esus era o deus destruidor (não há construção sem destruição). Dagda, possuía a arma dos primitivos, a maça (ou o martelo, que é sua forma evoluída), que por um lado tinha a propriedade de matar, mas por outro, a de ressucitar os mortos.

Dagda - o deus do caldeirão

Dagda possuía um outro objeto extraordinário: um caldeirão mágico com duplo uso. Era, antes de mais nada, um caldeirão de abundância, no qual se podia consumir indefinidamente a alimentação, sem risco de esvaziá-lo; em contrapartida, era um caldeirão de ressurreição. Quando os mortos eram mergulhados dentro dele, voltavam à vida. Além da maça e do caldeirão, Dagda possuía, segundo os irlandeses, uma harpa de ouro que tinha a particularidade de tocar – sozinha, sem a intervenção de um músico – a melodia que não se podia escutar sem cair em lágrimas, a ária que desencadeava um risco incoercível e a peça que adormecia todos os que a ouviam. Todavia, ela não podia tocar senão por ordem sua.

Dagda com a maça

Harpa de ouro de Dagda - que tocava sozinha

LUG, O DEUS “POLITÉCNICO”
Pode-se considerar como deus supremo Lug da mão longa, o deus celeste luminoso que ordenava e a quem todos obedeciam. O atributo principal de Lug era um dardo, arma de lançamento mais moderna que a maça de Dagda e que permitia que o guerreiro tivesse os objetivos mais distantes ao alcance de sua mão. Esse era o motivo pelo qual os irlandeses o apelidaram de Lamfada, Mão Poderosa, ou Mão Longa, no sentido de longo alcance. É provável que a roda, símbolo solar, também fosse um atributo de Lug, deus da luz. As inúmeras figurações galo-romanas de um “deus da roda” deveriam aparentemente representá-lo. “Os gauleses”, escreveu César, “fazem dele o inventor de todas as artes, o guia dos viajantes; eles lhes atribuem o poder supremo nas questões de dinheiro e de comércio.” Mas nem por isso ele deixava de ser o deus das batalhas e o deus das artes. Era dotado de todos os talentos e cumulava todas as atribuições. Era o deus “politécnico”.
Ele era um deus luminoso... e no entanto o verdadeiro deus solar, o Apolo gaulês, não era ele, era Belenos, esse deus em honra de quem acediam-se grandes fogueiras no alto das colinas, quando se aproximavam as noites de solstícios, 24 de junho e 25 de dezembro.

Lug

Lug, o deus luminoso

É um fato habitual na história das religiões, de que em determinado momento um culto do deus supremo comece a congregar fiéis. Isso é impressionante e chega a assustar. Então, ele é relegado ao papel de pano de fundo e substituído por um deus mais jovem e mais atraente. Assim, na Grécia, Urano – que havia se tornado inacessível – cedeu seu lugar a Zeus, que foi, por sua vez, afastado pelo filho Dionísio. Não devemos portanto nos surpreender se entre os celtas as gerações mais novas considerassem Dagda, aliás, Sucellos ou Taranis, como sendo uma personagem um pouco “retro” e decidissem dedicar sua devoção a seu filho, chamado Belenos (ou Aengus) pelos irlandeses – por este ter a vantagem da juventude e do charme. Para os gauleses, ele era Maponos (Grande Filho) e para os gaélicos, o Mac Oc (Filho jovem).
Segundo o costume celta do “encorajamento”, a educação do pequeno Oengus havia sido confiada a um de seus tios. Midir (que encontramos em vários monumentos gauleses, nos qual seu nome está gravado da forma antiga, Medros). Midir não escondia a seu pupilo que ele erafilho de Dagda. Ora, Dagda havia dividido o mundo subterrâneo entre seus filhos, e Oengus não havia feito parte dessa divisão. Descontente por não ter seu Sid como todo mundo, ele foi se encontrar com seu pai, numa noite de Samain. Samain (Samonios, Samhain, ou Samhuin) era a grande festa dos celtas, a noite de todas as maravilhas, que a igreja cristã, por não poder suprimir, adotou, no século IX, dando a ela o nome de Dia de Todos os Santos. Mac Oc, portanto, conseguiu ser reconhecido por Dagda e exigiu dele uma propriedade, um domínio. “Eu não tenho nada para ti, lhe respondeu o deus supremo, a divisão já terminou.”

A ASTÚCIA DE OENGUS
Oengus furtou-se a reclamar e fez uso de uma astúcia jurídica. Ele pediu simplesmente a seu pai que deixasse a sua disposição seu próprio Sid, sua morada, o Brug na Boinne, por um dia e uma noite. O pedido era tão modesto que Dagda não pôde recusar. Mas quando a noite e o dia terminaram, Oengus recusou a devolver seu Sid, lembrando a ele que na noite de Samain não existia o tempo, e que “uma noite e um dia” significava “toda a eternidade”. E eis como o deus supremo foi afastado por seu jovem filho.

Noite de Samain

Outra grande divindade era Ogmios. O historoador grego Luciano contou haver visto na Gália “uma curiosa representação de Heracles, que na língua nacional celta correspondia a Ogmios”. Se ele pensava que a personagem representada era Heracles, é porque, como o deus grego, ele o via coberto por uma pele de leão e tendo à mão direita uma maça e à esquerda um arco. Mas toda a semelhança limitava-se a isso. Ogmios não era em absoluto o atleta que cumpria seus objetivos por meio da força de seus músculos.

CERNUNNOS, O SENHOR DA NATUREZA


Cernnunos - o Deus Cornífero

Cernunnos - o Deus Cornífero


Ao contrário, no quadro contemplado por Luciano. Ogmios era uma figura que representava um homem maduro, já de cabelos brancos. Ele não o deus da força nem da coragem física, mas o da eloqüência. Ele conduzia os homens através da palavra e no quadro era figurado puxando um bom número de personagens por correntes que saiam de sua língua e encadeavam-se a suas orelhas (a alegoria é clara). Ele era também o deus justiceiro, que punia os autores de crimes.
Uma das figuras mais típicas do panteão celta era o deus chifrudo, Cernunnos, em latim batizado justamente de Cornífero. Ele era o senhor da natureza, comandava a vegetação e os animais. Mas passava a metade do ano no mundo subterrâneo, no reino das sombras, onde reinava com sua esposa, a deusa-mãe. No final de seis meses foi vítima de uma vergonhosa situação: sua esposa o traiu com Esus, o deus destruidor. Cernunnos subiu então à superfície da terra, onde fazia renascer a vegetação e multiplicarem-se os animais. Foi nesse momento que lhe nasceram na fronte chifres semelhantes aos dos cervos. O leitor já leu que essa galhada divina deu origem à tradição popular, que empresta o mesmo atributo aos maridos enganados. A cada inverno Cernunnos recuperava sua esposa, perdia seus chifres e voltava para o mundo subterrâneo. A terra tornava-se então nua e despojada de tudo o que a embelezava. E permanecia vazia e desolada até a volta dos belos dias.

São Cornélio

A imagem de Cernunnos se perpetuou, por meio do catolicismo, na imagem de São Cornélio, protetor dos animais com chifres, e na tradição dos santos bretões Edern e Telo, que tinham, ambos, o curioso costume de cavalgar cervos. Mas também foi ela que inpirou a imagem do diabo com a fronte encimada de chifres.
Tendo sido absorvida pela personagem de um santo, ou (no mito de Santo Humberto) pela figura do próprio Cristo, o velho Cernunnos acabou praticamente desaparecendo. Ora, nossos antepassados não pretendiam absolutamente deixar que se apagasse essa imagem milenar que ainda povoava seu subconsciente. Assim, ressucitaram-no por meio da metamorfose, um híbrido do druidismo e do cristianismo: o Mago Merlin.

Cernunnos (Merlin) - híbrido do druidismo e cristianismo

AS PROFECCIAS DE MERLIN (VIVIANE)
Segundo a Historia Britonun, de Nennius (século IX), teria existido na corte do princípe galês Gwendoleu, um bardo oficial chamado Myrddin, cuja transcrição fonética seria Marzin, em bretão armórico, e Merlinus em latim. Ele praticava a feitiçaria e declamava belos poemas. Teria combatido e ganho um torque feito de ouro, na Batalha de Arderyd (atual Arthuret), em 573, na qual Gwendoleu foi assassinado. Conta-se que a morte de seu mestre o fizera perder o juízo, e ele teria fugido, penetrando na floresta Caledônia, onde viveu como um animal selvagem. Em tal estado de loucura, ele adquiriu o dom da profecia, ainda segundo a lenda. Na Idade Média, atribuía-se a ele um certo número de poemas proféticos que abundavam na literatura galesa. Mas sua imagem de homem selvagem que vivia entre os animais da floresta se sobrepôs, e acabou-se por ligá-la às tradições relativas a Cernunnos, o senhor da natureza. Para afirmar seu caráter transcendente, fez-se dele o filho de uma monja cristã e de um gênio infernal que teria vindo a ela sob a forma de um pássaro. Após várias aventuras que o fizeram viajar entre o País de Gales e a Armórica, o mágico se estabeleceu nessa última região, na floresta de Broceliande.

Jardim de Broceliande

Floresta de Broceliande

Segundo uma das versões de sua história, ele morava com sua irmã Gwendid, que subitamente foi tomada pelo furor profético e se pôs a compor os poemas que previam o futuro. Merlin declarou então que dali em diante ele se via obrigado a parar de profetizar, já que sua irmã possuía um dom de vidência superior ao seu. De acordo com uma versão menos antiga, que se esforçou para eliminar o que pudesse haver de equívoco nessa história da irmão e da irmã que moravam juntos numa cabana no fundo da floresta, Merlin encontrou uma linda jovem, à beira do Lago de Comper, na floresta de Broceliande. Como ele previa o futuro, sabia o que seria feito de sua liberdade, se ele lhe dirigisse a apalavra. Mas estava cativo demais, para ouvir a voz da sabedoria. Assumiu então o aspecto de um jovem e começou a conversar com ela. A bela chamava-se Viviane, era filha de uma fada e de um poderoso senhor chamado Dimas. Para seduzi-la, ele fez para ela alguns passes de mágica.. Com um gesto de varinha de condão fez surgir um castelo, cercado de jardins cheios de flores e frutos perfumados. Uma verdadeira multidão de senhores e nobres damas dançavam nas alamedas, e ambos misturaram-se a eles. Viviane começou a sentir cansada, Merlin fez o castelo, os jardins e os dançarinos desaparecerem, e eles viram-se novamente na floresta. Ele prometeu lhe ensinar seus truques de magia. Todos os dias ia fazer-lhe a corte, ensinando a ela as virtudes da erva de ouro (ou erva-doze-horas), das bagas da flor de visco, do carvalho e do agrião verde. Explicou-lhe como curar as doenças, como fazer cair a chuva e como conversar com os animais. Como recompensa, recebia doces palavras e castos beijos, mas ela recusava seus ardores, convidando-o a ter paciência, até que ela tivesse se tornado tão sábia quanto ele. Assim, mantido na incerteza e na espera, ele lhe revelou todos os seus segredos. Ela conseguiu até mesmo obter dele a revelação dos gestos a serem feitos e das palavras a serem proferidas, para aprisionar alguém sem qualquer muro ou parede, sem madeira ou ferro, simplesmente por feitiço ou encantamento.
Para lhe agradecer, ela o convidou a sentar-se perto dela, sob uma moita de espinheiro, e a colocar a cabeça sobre seus joelhos.

Merlin e Viviane

Ela lhe acariciou os cabelos, mas subitamente recitou a fórmula para adormecer alguém. Assim que ele ficou inanimado, ela se levantou e com seu véu fez um círculo em volta do arbusto, repetindo as palavras que acabara de aprender. Quando Merlin despertou, estava num leito macio, entre flores, num quarto feérico. Não havia paredes à sua volta, mas o mundo não possuía uma torre tão resistente quanto a prisão feita de ar, na qual ele estava preso. Viviane estava próxima, e lhe explicava que havia feito aquilo no sentido de sua felicidade comum, e que ela voltaria frequentemente para vê-lo.
Se dermos crédito a informações fidedignas, ela manteve a palavra e dedicou-lhe o melhor de seu tempo. Mas o pobre encantador continuou para sempre em sua jaula invisível, no recanto mais profundo da floresta de Broceliande.

MIRÍADES DE FADAS (MORGANA – ARTUR – AVALON)


A Ilha de Avalon


Conhecemos outras fadas, na mitologia celta, a começar por Morgana, a irmã do rei Artur, que reinava com suas sete irmãs na ilha de Avalon. Foi ela que manteve prisioneiros no Vale sem Solta, na floresta de Broceliande, os amantes infiéis e suas senhoras, até o dia em que o encantamento foi quebrado por Lancelot, amante da rainha Guinevere, a quele ele permanecera fiel. Foi ainda a Fada Morgana que, quando o rei Artur foi mortalmente ferido em Camlan, foi à nave buscá-lo para levá-lo à ilha de Avalon, onde permaneceu adormecido, à espera do despertar que permitiria a ele reunir sob seu cetro os seis povos celtas que assim recuperariam sua independência.

O Castelo de Avalon

Na realidade, havia uma miríade de fadas. As fontes, os rios, os filetes d’água, árvores, ou ainda animais eram fadas, quando estas não eram deusas. E as noites de Céltia eram assombradas por incontáveis gênios, em geral malfeitores. Mas não é o caso aqui de citar todas as divindades que os antigos celtas honravam. Apesar de sua importância, não foram citados nem Balor, nem Finn, Manawyddan, Nodons, Nuz, Gwen... Todos esses seres sobrenaturais que fazem com que a mitologia celta seja de uma inacreditável riqueza.

Fada Morgana

A traição de Guinevere e Lancelot

REI ARTUR E A RESISTÊNCIA


Rei Artur


Personagem mítica, do ponto de cruzamento das civilizações celtas da Grã-Bretanha e do círculo das cortes da França, o rei Artur, cercado por seus cavaleiros da Távola Redonda, simboliza a resistência dos celtas face à invasão anglo-saxã.

Os Cavaleiros da Távola Redonda

Muitos de seus cavaleiros partiram em busca do Graal, alternadamente símbolo da vida e da abundância e riqueza, da pedra filosofal, mais tarde, por substituição assimilada à taça na qual José teria recolhido o sangue de Cristo.

O Santo Graal

O Santo Graal não é um cálice (apesar de ser representado por um). O Santo Graal tem tudo a ver com poder, sim, mas com o poder de mudar o mundo, no sentido mais vasto.

À conta de procurarem o poder pessoal, os homens percorreram caminhos longos, trilharam longas estradas em busca de matéria, e como se tratava de matéria, nada encontraram. Como queriam o poder na matéria, nunca o encontraram.

O poder de que lhes falava era muito mais vasto, muito mais amplo e muito mais universal. Falo do poder de libertar o homem da sua própria sombra.

Falo do poder de reconhecer num homem um emaranhado de energia vinda de outras eras. Falo da liberdade final do ser humano. Falo do poder, sim, de ajudar um irmão que se encontra detido numa prisão etérea de informações póstumas.

Tudo isto ainda é muito complicado, mas fica com esta ideia. O Santo Graal não é um cálice. O Santo Graal, na realidade, é um poder concedido pelos céus àqueles que prescindem da matéria e sobem, sobem muito alto para alcançar esta sabedoria.

A Alma Iluminada,
Alexandra Solnado

Os principais nomes dessa busca são Perceval, Galhad, Lancelot do Lago. Personagem central, Gauvain (ou Gawain, ou Walwen), sobrinho favorito e suposto herdeiro do rei Artur, foi o único a se aproximar do cálice sagrado. Ele viria a se perder, na estrada da ilha de Avalon, onde repousa o próprio Artur.

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