Se eu fosse metódica demais, organizaria o blog de forma cronológica para que todos pudessem entender como realmente se divide a linha do tempo da história, porém, como o propósito não é dar aula de história nem de civilizações e, sim, fazer deste lugar, um canto de viagens para outros tempos e buscar certos costumes que nem sabemos mas que praticamos, vou deixar um pouco o fascinante mundo grego de lado e falar de outras culturas, costumes e povos. E vou começar falando um pouquinho de um dos povos mais presentes na Europa e que ainda estão sendo redescobertos por historiadores e arqueólogos: OS CELTAS
A história e a arqueologia datam o surgimento dos celtas a partir do começo do segundo milênio a.C. O seu berço teria sido a região a leste do Reno, conhecida como Baviera e Boêmia, ao norte dos Alpes e ao longo do rio Danúbio.
Durante a Idade do Bronze, por volta do século 14 a.C., surgiu na Europa central uma civilização que se caracterizava pelos ornamentos, decoração de armas e utensílios. Essa seria, então, a primeira aparição dos celtas, de acordo com os arqueólogos. Esse povo, conhecido como gaëls, teria saído do noroeste da Alemanha, migrado para o ocidente em direção às ilhas da Irlanda e Grã-Bretanha, e se dispersado por grande parte do continente europeu.
A segunda migração teria ocorrido durante a segunda Idade do Ferro, entre 500 a.C. e 50 a.C. – esses celtas se caracterizaram pelo uso de espadas, capacetes e adereços muito bem ornamentados. Conhecidos como brittons, teriam se deslocado do norte do Alpes para a Gália, Grã-Bretanha, Itália e Espanha.
Existem poucos dados e documentos originais que relatem com precisão a história dos povos celtas. Como não possuíam escrita e difundiam o conhecimento apenas por via oral, muitas das informações hoje disponíveis foram obtidas por meio do testemunho dos romanos durante as invasões à Bretanha. Isso não permite traçar um quadro completo e imparcial do que foi a realidade cotidiana desses povos.
Os celtas não eram organizados num império. Viviam em tribos independentes entre si, nas quais o poder era concedido ao rei escolhido pelo grupo: ele cuidava do bem-estar de sua comunidade. Ao longo de anos, foram se espalhando pela Europa.
Não são considerados um povo com etnia homogênea, mas possuíam a mesma língua e religião, que servia como elo entre os membros das diversas tribos, dando-lhes a característica de “celta”.
A religião celta era politeísta com características animistas, e os seus ritos eram quase sempre realizados ao ar livre. Geralmente, seus deuses eram associados aos fenômenos da natureza. O seu calendário anual mantinha vínculos religiosos com várias festas associadas às estações do ano, como o Imbolc e o Belthane, assim como celebrações dos equinócios e solstícios.
Um dos deuses celtas venerado no norte e oriente da Gália era chamado Cernunnos. Era uma figura humana provida de chifres de cervo, segurando um anel e uma cabeça de serpente.
Apenas para fins de esclarecimento, a cultura ocidental tem o hábito de relacionar figuras com chifres sempre com o negativo. Em cada cultura, ele possui uma representação diferente. Na verdade, os chifres simbolizavam força e poder. No Egito simbolizavam abrir caminhos. Símbolo da fecundidade, da elevação, de prestígio e glória. No altar israelita, significam a Onipotência de Deus. Para os gnósticos é símbolo de maturidade e perfeição de todas as coisas. Símbolo fálico. Para os chineses, simbolizam prosperidade. Na psicanálise, é símbolo do equilíbrio e da maturidade psíquica.
DE BRIGITE, A DEUSA-MÃE, AO MAGO MERLIN
O panteão celta, menos conhecido do que o dos gregos ou o dos romanos, te mais de uma centena de divindades. Os celtas veneravam todos os tipos de deuses (Lug da Mão Poderosa, Cernunnos, o chifrudo, Belenos, o deus-Sol, Brigite, a deusa-mãe) e fadas, como Morgana, mas também gênios malvados e heróis, entre eles Merlin, o Mago (Yann Brekilien, tradução de Marly N. Peres)
Nosso conhecimento sobre as crenças dos celtas e seus ritos religiosos têm, como fontes mais confiáveis, menos as histórias gregas e latinas (Posidônio, César, Plínio, Lucano, Tácito, Estrabão) que as obras de arte célticas originais (ornamentação de vasos, moedas, altares).
O politeísmo dos celtas não tinha nada a ver com a concepção Greco-latina do termo. As concepções dos antigos celtas eram muito mais próximas das atuais concepções cristãs que das do paganismo helênico e latino. O cristianismo atual não imagina uma divisão de trabalho entre o Deus-Pai, o Filho e o Espírito Santo, e não considerava como sendo divindades distintas o Jesus infante, o Messias, o Cordeiro de Deus, o Bom Pastor, o Salvador, o Cristo-Rei e o Crucificado, apesar de eles corresponderem a idéias diferentes e serem objeto de cultos separados.
ESPÍRITOS PUROS
Os deuses celtas apresentavam outras diferenças fundamentais com relação aos de Roma e da Grécia. Em primeiro lugar, não tinham qualquer aspecto físico. Era impensável apresentá-los sob uma aparência humana. Todos sabiam que tratavam-se de puros espíritos. Senão, basta recordar o explodir do formidável riso do chefe gaulês Breno, por ocasião da tomada do templo de Delfos, quando ele se deu conta de que os deuses do Olimpo estavam ali representados por estátuas antropomórficas. O prestígio que a cultura grega tinha até então tido para ele não sobreviveu à constatação. Foi somente sob a ocupação romana que, para agradar ao ocupante, os gauleses, que haviam se tornado galo-romanos, começaram a esculpir estátuas e baixo-relevos nos quais davam a suas divindades aspecto humano.
Os deuses celtas não viviam em comunidade, num habitat coletivo do tipo do Olimpo: eles dividiam entre si as grutas, os dolmens, os túmulos, as fontes, o interior das montanhas. O conjunto dessas moradas constitui o Outro Mundo, universo maravilhoso de felicidade e paz, que os irlandeses chamavam de Sid (expressão que significa justamente “paz”). Aliás, os habitantes do Sid não eram unicamente deuses e deusas. Todos seres sobrenaturais faziam parte dele: fadas, gênios, elfos, e também os mortos. Eis um ponto que nos distancia bastante das crenças Greco-latinas e nos aproxima da escatologia cristã. Para os antigos celtas, os falecidos iriam encontrar, num mundo melhor, as pessoas divinas, equivalentes a anjos bem-aventurados.
Nos não conhecemos todas as divindades celtas, mas ao menos algumas centenas. O único elemento complicador é que cada deus ou deusa era designado por vários nomes. E algumas vezes um nome chegava a ser usado por várias divindades...
Quanto às ligações de parentesco, não deve-se considerá-las de um ponto de vista realista ou racional. Tal deus que, em determinado relato, era filho de tal outro, podia ser seu pai ou seu irmão, em outro. No Sid, era perfeitamente possível ser mais velho do que seu avô. Aliás, não era sequer proibido que se gerasse a própria mãe.
Da religião de povos que os precederam nas terras do Ocidente, os celtas haviam conservado o culto à deusa-mãe, a qual deram o nome de Dana, ou Ana, mas que também podia ser Belisama (a Resplandecente), ou ainda Nantosuelta, a divindade do deus com o martelo, Sucellos. Ela é também a tripla Brigite, a deusa uma em três pessoas, que preside à fecundidade e que se transforma, na ocasião em três cisnes ou em três grous.
A Grande Deusa era mãe de todos os deuses, mas também a distribuidora de toda a vida. Seu emblema era a Lua, ou melhor, a Lua era uma das teofanias que a manifestavam. Seu culto era bem anterior aos celtas. Quando estes se espalharam pela Europa, haviam ali encontrado povos pré-indo-europeus adoradores da deusa-mãe, frequentemente representada nos monumentos megalíticos, e adotaram então seu culto, acrescentando-o aos de suas próprias divindades.
Segundo César, o grande deus dos gauleses teria sido Dis-Atir (ele grafou Dispater). Dis significava “a morte” e Atir a forma celta correspondente ao sânscrito “pitar”, ao latim “pater” e ao germânico “fadar”. Todos os celtas, nos disse César, pretendiam terem nascido desse grande deus. Mas ele era chamado pelos irlandeses de Dagda, que queria dizer o Deus Bom, e a imagem que eles deram desse bom deus, personagem truculenta, gigantesca, de apetite insaciável era em todos os aspectos à do deus com o martelo dos gauleses do continente, chamado Sucellos (aquele que bate com força).
sábado, 10 de abril de 2010
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