Batalha de Platéia - Guerras Médicas
Apesar de ter dois reis vitalícios e hereditários no topo da pirâmide, Esparta não vive num regime monárquico. Os reis dirigem a vida religiosa e militar da cidade, mas são fiscalizados por cinco éforos, magistrados eleitos anualmente, que têm grande poder de controle e decisão. Os éforos têm ao seu lado o conselho dos anciãos, chamado gerúsia, que reúne 28 membros com mais de 60 anos, eleitos por aclamação para cargos vitalícios.
Há também uma assembléia popular, formada pelos homoioi (em grego, iguais ou semelhantes), chamada apela. Ela desempenha apenas papel consultivo e reúne todos os cidadãos com mais de 30 anos que correspondem a determinados criteérios. São eles, e apenas eles, os verdadeiros cidadãos de Esparta. Todos são do sexo masculino, de nascimento livre e com origens espartanas. Eles elegem os senadores (os anciãos da gerúsia) e os éforos.
Esses cidadãos, cerca de 8 mil no início do século V a.C., então convencidos de sua superioridade, mas têm direitos limitados e, principalmente, muitos deveres. Como todo trabalho manual lhes é proibido, vivem da renda de seus dotes de terra e devem, dos 20 aos 60 anos, estar permanentemente à disposição da cidade para participar dos treinamentos militares em equipe e, eventualmente, ir para a guerra. Os cidadãos iguais constituem uma casta da aristocracia militar, que vive desde a adolescência num coletivismo radical. Durante toda a vida devem fazer as refeições em grupos de 15. Cada um deve conseguir pagar sua parte, sob pena de ser destituído de sua condição de cidadão. Essas refeições são, em princípio, frugais. A especialidade dos cozinheiros de Esparta é o caldo negro, um ensopado feito com sangue de alguns animais, misturado com vinagre e especiarias. Pode-se beber vinho, mas é proibido ficar bêbado. Os que não respeitarem as regras estão sujeitos a castigos imediatos, como a surra de vara, ou sanções mais severas – podendo ir até à pena de morte – em caso de falta grave à disciplina.
Ao homoioi devem se casar por volta dos 30 anos, para ter filhos, em pequeno número, com a preocupação de não dividir demais as terras que possuem. Mas têm que gerar pelo menos um menino, cuja sobrevivência depende da decisão dos mais velhos da família. Isso porque, seguindo princípios da eugenia, só são preservadas as crianças que pareçam ter constituição normal. As outras são abandonadas nas montanhas das redondezas ou jogadas no precipício.
A vida privada do cidadão é estreitamente controlada. É proibido qualquer tipo de luxo dentro das casas. Inspetores aparecem para fazer verificações, sem aviso prévio, para manter o cidadão sempre com receio. Quem educa as crianças pequenas são as mulheres. Quando fazem 7 anos, os meninos passam a ser cuidados por determinados funcionários da cidade. Esses instrutores, zelando pela formação intelectual e artística das crianças, ensinam a elas valores guerreiros como força, resistência, seriedade, bravura, disciplina, solidariedade e astúcia.
De 16 a 19 anos, o adolescente, chamado de eiren, é submetido a sucessivas e violentas provas de iniciação, que podem resultar no assassinato de homens de condição inferior, os hilotas, um tipo de servo do Estado. Eles tentarão algumas vezes, em vão, se revoltar, como na ocasião do terremoto que atingiu a Lacônia em 464. A sociedade espartana contém também outros cidadãos de classe inferior, os hypomeiones, que cumprem as condições necessárias para fazer parte dos iguais.
Os hypomeiones são engajados no exército e participam, como iguais, da vida religiosa da cidade. Mas não são admitidos na apela, a assembléia popular. Eles também tentaram se rebelar, em 397, instigados por um certo Cinadon, mas o levante foi descoberto e severamente reprimido. Na sociedade espartana existem ainda os periecos, homens livres que vivem na periferia da cidade, no território lacedemônio. Eles fazem parte do exército, atuando na defesa do território, mas não participam do governo central da cidade. Os periecos não tem exercício pleno da cidadania, privilégio reservado aos iguais.
Os iguais têm sua dignidade baseada na atividade militar e não, como em Atenas, no exercício do poder político. A política, em Esparta, está nas mãos de poucos: os éforos e os senadores da gerúsia, que detêm também os principais poderes judiciários. Uma espécie de constituição, infelizmente pouco conhecida, a rhetra, regulamentava, em princípio, a organização dos poderes.
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